sábado, 4 de maio de 2013

Fim do Horário Integral nas Escolas do Amanhã


Num momento em que, mais uma vez, em função dos últimos acontecimentos ligados a crimes violentos cometidos por menores de idade, a sociedade discute a redução da maioridade penal, cabe aqui colocar como o Estado, em conivência com a própria sociedade, descumpre com a obrigação de garantir os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, principalmente, aqueles que esta redução objetiva atingir. Ninguém desconhece os problemas vividos pelos menores pobres e marginalizados em todo o país. O silêncio e a tolerância à falta de escolas e assistência de saúde, à exploração do trabalho infantil, aos abusos sexuais e violências domésticas por ação da família e omissão de todos é inversamente proporcional à exigência de punição e castigo quando crimes são cometidos, mesmo levando-se em conta a chamada situação de risco na qual estas crianças e adolescentes estão inseridos. Sem entrar na polêmica da questão, o poder público, o Estado e a sociedade como um todo fecham os olhos para a insegurança social que esses jovens vivenciam e até mesmo para os assassinatos dos quais muitos são vítimas, principalmente nas grandes cidades, onde o tráfico, a milícia e a própria polícia se encarregam da maior parte da violência sofrida por seus habitantes.
É neste contexto que a Secretaria Municipal de Educação reformula a proposta de horário integral nas Escolas do Amanhã, unidades situadas no que a SME chamou de áreas conflagradas, que funcionavam até as 16h30, e cria o TURNO ÚNICO, onde os alunos têm aulas apenas até as 14h30. Na prática, é o fim do horário integral nas Escolas do Amanhã. Mais uma vez, a ação de instituições e estruturas públicas, em comunidades que pouco as usufruem, ainda é mais subtraída. Com o Turno Único, a SME disfarça que cumpre o horário integral e, na verdade, diminui o tempo de atendimento dos alunos das Escolas do Amanhã, deixando as crianças de várias comunidades carentes vulneráveis a todo tipo de abordagem negativa, muito presente mesmo nas áreas “pacificadas”. Mais uma vez, os menores pobres e marginalizados, filhos dos trabalhadores deste município, são abandonados pelo poder público e só podem contar com os poucos recursos estruturais de suas famílias, que não têm condições de oferecer, como a escola ainda oferece, a socialização, o acesso aos conhecimentos historicamente valorizados, a ampliação do capital simbólico, a apropriação dos diferentes códigos e linguagens do mundo, o desenvolvimento de um olhar sensível, crítico e criador para uma inserção diferenciada dessas crianças numa sociedade que tanto precisa de transformação. Sem o horário integral, a grande maioria desses alunos vive experiências nada facilitadoras da aprendizagem, muitas vezes sozinhos ou com seus irmãos porque, na melhor das hipóteses, seus pais estão trabalhando.
Até quando a sociedade vai fingir que não vê aquilo que grita aos seus olhos, só para se sentir mais à vontade de continuar cega?

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