quarta-feira, 21 de junho de 2017

Depoimento da profª Flávia, de Artes

Hoje consegui me desabilitar da disciplina de Inglês!!! Uhuu! Os alunos estão salvos da farsa que eu seria!!! Fiquei aliviada por conseguir resolver o meu problema e agradeço ao SEPE que me acolheu, me olhou nos olhos, me ouviu e me deu a mão no momento que eu precisei. Agradeço à Doroteia Frota e ao Sérgio, à Marta, ao Túlio, ao Marcello Da Silva Teixeira e ao meu grande amigo de adolescência Samuel Maia. Agradeço também a todos que me apoiaram e dividiram suas histórias também.


Mas toda essa história me colocou frente a frente comigo mesma. Fico pensando: até onde nos sujeitamos? Até onde vai nossa dignidade? O que nos faz dizer sim ou não para o diabo? 

A funcionária que me atendeu ficou muito chateada pela exposição no face, mesmo sem ninguém saber quem ela seria. Ela tentava reverter o fato e íamos entrando numa quase discussão desnecessária para ambas... Tentei encerrar a conversa falando que não era pessoal (o que é verdade) e que ela só estava fazendo o que lhe era mandado (o que não é bom!).


“Fazer o que sistema pede” ficou martelando na minha cabeça. Fiquei pensando até que ponto eu também não faço o que o sistema pede e até que ponto eu tento justificar minha submissão para dormir tranquila? Há alguns anos que estou sem turma. Há alguns anos 
que ir para o Estado é quase uma marcha fúnebre.

Sou professora do Município também, e é claro que mesmo em outra rede pública encontramos vários problemas para exercer nosso trabalho da melhor maneira e que todas as nossas revindicações e queixas são legitimas. Mas, ser professora do estado e exercer funções de todo tipo como uma tapa buraco também não é dizer sim ao diabo?
Todas essas situações vão minando crenças, sonhos, e o poder da imaginação de uma vida e um mundo melhor.

Quantas vezes me assustei com frases do tipo: “Pra quem não sabe nada, o arroz com feijão está bom”, “Vai levando, se o Estado não tá nem aí pra gente, porque é que a gente vai estar aí para o estado?”...

Estar em uma instituição de ensino sabendo que você pode dar mais, muito mais, e ao mesmo tempo a situação não te permite ou te tira as forças para lutar mais um pouco é muito desestimulante. Já fui de entregadora de livros a porteira no Estado, sendo concursada em educação artística. Quem me conhece sabe do meu envolvimento com o teatro e como eu amo o que faço. O quanto é gratificante poder apresentar as artes cênicas para quem nunca viu e tem mais dificuldade de acesso às artes diversificadas. Ver o crescimento e o desenvolvimento dos meus alunos é um grande prazer que tenho. Tudo isso me faz pensar mais uma vez em pedir exoneração, e penso mais uma vez em porque ainda estou no Estado aceitando isso?

Acho que o Estado é como uma relação abusiva. A parceira sempre acredita que o marido vai melhorar. 

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