sexta-feira, 30 de setembro de 2016

MANIFESTO DA FEDERAÇÃO NACIONAL DOS SOCIÓLOGOS EM RELAÇÃO À PUBLICAÇÃO DA MP 746, EM 23 DE SETEMBRO DE 2016.


A Federação Nacional dos Sociólogos - Brasil torna público o seu posicionamento em relação a MP da Presidência da República publicada no caderno extra do Diário Oficial da União em 23 de setembro de 2016. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 746, DE 22 DE SETEMBRO DE 2016.
A MP 746 trata-se na realidade de iniciativa do governo federal de aprovar por meio da Medida Provisória o projeto original da PL 6.840/2013 * que tramitava na Câmara dos Deputados. Pois, o projeto aprovado por unanimidade pela comissão instituída com fim especial de propor mudança no Ensino Médio, em 2014, e que está para ser apreciado na plenária da Câmara, foi alterado por um substituto resultado de mobilização do Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio **, um movimento que foi criado em 2014, com o fim de intervir na não aprovação do projeto de lei 6.840 /2013 que estava tramitando na Câmara.
O substituto que foi aprovado por unanimidade, resultado da luta deste movimento, diz:
“Art. 36. Os currículos do ensino médio, observado o disposto na Seção I deste Capítulo, serão organizados a partir das seguintes áreas do conhecimento:
I – linguagens;
II – matemática;
III – ciências da natureza; e
IV – ciências humanas.
e, no seu
§ 7º Integram as áreas do conhecimento a que se refere o caput os seguintes componentes curriculares obrigatórios:
I - linguagens:
a) língua portuguesa;
b) língua materna, para as populações indígenas;
c) língua estrangeira moderna;
d) arte;
e) educação física;
II – matemática;
III - ciências da natureza:
a) biologia;
b) física;
c) química;
IV - ciências humanas:
a) história;
b) geografia;
c) filosofia;
d) sociologia.
Assim, se verifica que a PL 6.840/2013 manteve como disciplinas obrigatórias as disciplinas de Sociologia e Filosofia, que foram incluídas como disciplinas obrigatórias na LDB em 2008, através de uma luta nacional na qual a Federação Nacional dos Sociólogos se destacou.
No entanto, a MP publicada em 23 de setembro, expressa um retrocesso em relação ao que foi aprovado por unanimidade na Comissão Especial da Câmara e em vista disto, concordamos com o Manisfesto do Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio em denunciar este retrocesso em vários itens, mas o objeto que mais fere a nossa luta é ter a eliminação das disciplinas Sociologia e Filosofia tão arduamente conquistadas pelas entidades da sociedade civil.
Não há como negar que a MP é polêmica no projeto que expressa. Assim, como também, não deixava de ser polêmica a PL 6.840/2013 que foi aprovada na Comissão Especial. No entanto a PL foi resultado de vários anos de debates envolvendo inúmeras entidades do país e ainda iria se submeter ao plenário da Câmara onde poderia sofrer emendas antes de ser aprovada. a PL 6.840/13 passava por um processo democrático de debate na Câmara.
A questão que destacamos em relação a MP, não são os seus pontos controvertidos, mas fundamentalmente, é de ter atropelado a Câmara dos Deputados retrocedendo ao projeto original, que era vontade hegemônica das entidades de ensino privado, que tinha como tema central diminuir as treze disciplinas e substituí-las por temas/eixos, com isso haveria a diminuição de professores para lecionar em vez de treze disciplinas, cinco áreas, tendo mais uma como optativa. A redução de professores distribuídos pelas diversas disciplinas, atualmente em vigor, para a necessidade de compor os cinco ou seis eixos seria enorme.
Além disso, a mudança trata de atender prioritariamente a relação do mercado, com as instituições privadas de ensino médio, como também de Estados da Federação que veriam a redução de seu quadro de professores na rede pública, de Estados com governos estaduais comprometidos com a onda neo liberal que tomou o governo depois do impedimento da presidente eleita (não podemos deixar de destacar que o Ato presidencial que instituiu a comissão ter se originado do gabinete da presidente Dilma).
A MP editando o projeto original da PL 6.840/13, consiste desta forma, numa medida autoritária ao largo do debate aberto com a sociedade civil e, ainda mais, colide com a autonomia da separação dos poderes, no caso o Congresso, que teria o seu projeto aprovado na Comissão Especial subtraído da Casa e deformado pelo chefe do Poder Executivo através desta MP.
Assim, nos solidarizamos e apoiamos o Manifesto do Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio, divulgado no dia 23 de setembro de 2016 e nos colocamos juntos na luta para impedir no plenário do Congresso a aprovação da MP 746 e continuaremos a denunciar também entidades que foram cúmplices das forças que queriam retirar as disciplinas de Sociologia e Filosofia e substituí-las pelas áreas/temas/eixos denominados Ciências Humanas ou Ciências Sociais, como está claro na MP 746 do atual governo federal.

Nilton Soares de Souza Neto
Presidente da Federação Nacional dos Sociólogos - Brasil

*O PL nº 6.840/2013 é resultado do Relatório da Comissão Especial destinada a promover Estudos e Proposições para a Reformulação do Ensino Médio – CEENSI e propõe alterar a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 com vistas a instituir a jornada em tempo integral no ensino médio, dispor sobre a organização dos currículos do ensino médio em áreas do conhecimento e dar outras providências.
** O Movimento Nacional em Defesa pelo Ensino Médio foi criado por dez entidades do campo educacional – ANPED (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), CEDES (Centro de Estudos Educação e Sociedade), FORUMDIR (Fórum Nacional de Diretores das Faculdades de Educação), ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação), Sociedade Brasileira de Física, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, ANPAE (Associação Nacional de Política e Administração da educação), CONIF (Conselho Nacional Das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica) e CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).

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