Indignação....
Por Regina Bruno
Ontem à noite, após arrombar o
cadeado da porta central e invadir o salão principal da Câmara Municipal do Rio
de Janeiro onde os professores grevistas encontravam-se acampados, a força
policial deu início ao ritual de agressões aos manifestantes. Marca registrada
de uma polícia que não sabe lidar com mobilizações de rua nem com grupos
sociais que reivindicam direitos e ensinam o significado histórico da desobediência
civil – condição da construção da cidadania e da recusa à barbárie
A certa altura um dos policiais se vê
face a face com a sua professora. Os dois, atônitos, por um instante se olham e
se reconheceram.
-“Fulano, sou eu a sua professora!
Sou eu! Olhe para mim!
-Professora!
Por um momento ele não sabe o que fazer
e o que dizer. Seguir em frente?! Recuar?! Informá-la que “apenas” cumpre
ordens?!. Entretanto o empurra-empurra os arrasta e os separa.
A partir daquele instante se desfaz a
relação professor-aluno cuidadosamente construída na sala de aula e fora dela.
Rompe-se e se esgarça essa intrincada, rica, difícil, bela e cansativa vivência
cotidiana voltada para a troca de conhecimentos e de aprendizados que
possibilita o cultivar dos afetos. Enfraquece os laços de amizade, “condição
para a recusa de servir” como nos ensina Marilena Chauí ao refletir sobre o “Discurso
da Servidão Voluntária” de La Boethie. E todos (as) nós também perdemos com
isso.
A prática policial dessa noite de
sábado registrada na mídia mal se distingue e muito se assemelha à violência
policial nos momentos de reintegração de posse junto às ocupações de terra e
aos assentamentos de reforma agrária.
Instaura-se, então, a ilegitimidade
do dever policial do Estado. Desordeira foi a policia porque violenta em nome
da ordem. E isso anula a legalidade de sua prática institucional.
A classe política, por sua vez,
acostumada a conviver tão somente com os lobbies de
representantes diretos da elite econômica e patronal que circula cotidianamente
os corredores do poder sente medo, sente-se acuada quando se adentram na Câmara
Municipal a sociedade civil organizada, os professores, o povo.
Igual a Alexis de Toqueville
(1805-1859) – aristocrata, normando, pensador e político que em suas “Lembranças
de 1848” descobre-se apavorado com o fedor, a feiúra e a sujeira da “ralé”
parisiense “invadindo” o Parlamento Frances – os políticos da Câmara Municipal
do Rio de Janeiro têm medo dos professores acampados. Tem medo da velha senhora
irreverentemente sentada. Tem medo da jovem professora dependurada na amurada
de madeira. Têm medo de suas reivindicações e, sobretudo, do modo como
professores e professoras se constituem em identidades políticas e em
movimentos sociais.
As reivindicações dos professores e
professoras em greve são justas, são legais, são legítimas. Injusta é a
Prefeitura do Rio de Janeiro. Injustas são as instituições públicas
responsáveis pela educação no estado e no país. Injustas e imorais.
Que venham os sacis-pererês.
Que venham os homens-aranhas.
Que venham todo(as).
Nenhum comentário:
Postar um comentário