Currículo pobre... Só para os pobres
As decisões do Conselho Nacional de
Educação apontam para o fim dos cursos com currículos multidisciplinares. Não
obstante, a retomada deste projeto - um curso com um desenho curricular com
características multidisciplinares - se apoia, em primeiro lugar, no fim de um
currículo estruturado em disciplinas na Educação Básica, tal como vem sendo
proposto pelo atual Ministro da Educação. No lugar de um currículo com
disciplinas, teríamos um currículo estruturado por áreas, com o objetivo de se
"facilitar" a aprendizagem do estudante.
Algumas experiências, nesse sentido,
vêm sendo implementadas pelo Brasil, como, por exemplo, nos "Ginásios
Experimentais Cariocas", da Prefeitura do Rio de Janeiro. O atual
secretário de educação do estado do Rio de Janeiro também defende esta proposta
para o ensino médio. É claro que um currículo com essas características jamais
será implementado em uma escola que atenda os filhos das elites brasileiras. O
objetivo, obviamente não declarado, é o de implementar um currículo pobre para
os pobres. Dentro dessa concepção, os cursos de licenciatura nas áreas
denominadas pelo MEC de Ciências Humanas e de Ciências da Natureza, retomariam
uma tendência interrompida há décadas. Voltaríamos no tempo, e as licenciaturas
passariam a formar professores de Ciências da Natureza e professores de
Ciências Sociais, ou seja, professores com uma formação generalista, voltados
para lecionar em escolas com currículos com o mínimo de conteúdos científicos,
ou quase nenhum, em outras palavras.
As reduções operadas na carga horária
de currículos da educação básica apontam para esse caminho, lamentavelmente.
Num momento em que a sociedade clama pela educação integral, a SEEDUC reduziu a
carga horária de 30 tempos para 25 tempos semanais. A mesma medida já foi adotada
pela Prefeitura do Rio de Janeiro há uma década e meia, aproximadamente. Quando
o ano letivo era de 180 dias, a carga horária diária era de 6 tempos. Hoje,
quando passamos para 200 dias, a carga passou a ser de 5 tempos diários. Ou
seja, antes, o estudante tinha 1.080 horas/aula, hoje, 1.000 horas/aula por
ano. Em uma rede que tem cerca de um milhão de matrículas, aproximadamente,
você tem ideia da redução de encargos e salários que isso proporciona?
Esta é apenas uma das razões para o
retorno da proposta de um currículo multidisciplinar voltado para a formação de
professores generalistas nas licenciaturas. Cabe ressaltar que essa proposta
não se confunde, nem substitui, mas, ao contrário, se opõe à proposta de um
currículo interdisciplinar. É importante afirmar que a interdisciplinaridade
não acaba com a disciplinaridade, ao contrário, ela pressupõe a
disciplinaridade. Um desenho curricular interdisciplinar parte da constatação
de que, embora as ciências, com os avanços das pesquisas, caminhem para uma
especialização cada vez maior, é absolutamente imprescindível a construção de
um currículo que possibilite o diálogo entre as ciências. Há várias propostas
pedagógicas nesse sentido. Mas a pedagogia é uma ciência que os governos, em
todas as esferas, cada vez mais desqualificam e está ausente dos projetos
educacionais que invadem as escolas, feitos por grandes empresas.
Todos ao Conselho Deliberativo da
Rede Estadual, no dia 24, sábado, às 10h, no auditório do SEPE – Rua Evaristo
da Veiga, 55 – 7ºandar
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